quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

O Facebook já cansou

O Facebook já cansou

Por Dagomir Marquezi Quarta-feira, 30 de janeiro de 2013




A rede social parece um boteco que parou no tempo, tem serviço ruim, mas vive lotado. É hora de mudarmos de bar Segundo o Ibope, 94,2 milhões de brasileiros estão conectados à internet. Desses, 55 milhões frequentam o Facebook. A agência Hello Research pesquisou os usuários de oito redes sociais. Descobriu que, de cada dez brasileiros, 8,4 estão no Face. Esses 84% são uma unanimidade. E como quase toda unanimidade, não faz muito sentido. A cada dia o Face parece mais com aquele bar que parou no tempo. Não serve a melhor bebida nem a melhor comida, a decoração é pobre e os garçons atendem mal. Mas vive lotado. Nem seu proprietário sabe explicar por quê. Existem outros “bares” melhores entre as redes sociais, mas eles estão às moscas, ocupados por só 16% dos internautas.

O Google+ funciona melhor, o Twitter é imbatível como porta-voz pessoal, o LinkedIn impulsiona a carreira. Mas a gente se vê no Face, galera! Frequentamos o Facebook porque todo mundo está lá. E todo mundo está lá porque frequentamos o Facebook. Seu mecanismo meio inconsequente incentiva esse clima de boteco. Estamos viciados nesse zunzum permanente. Queremos ser curtidos. Queremos ser compartilhados. O desejo de aceitação é inerente à natureza humana. Cada um de nós descobre o caminho para a glória. Uma amiga tirou uma foto com a filha, colocou uma frase espirituosa e ganhou 561 Curtir em 24 horas. Agora posta compulsivamente fotos dela com a filha, que já cansou de ter pais paparazzi. Paisagens deslumbrantes, fotos de séries antigas de TV, garotas que não conheço se exibindo de biquíni na piscina. Vídeos de gente dando vexame e de gatinhos fofos. Jogador cobra pênalti e sofre infarto em pegadinha. Veja surfista pegando onda de 75 metros. Fotos da primeira comunhão. O pior videoclipe da história. Apresentador cospe sangue durante o noticiário. Como trabalhar desse jeito? Não estou aqui combatendo o Facebook.

Eles criaram duas boas novidades: a Fan Page e a Linha do Tempo, que dão uma perspectiva mais construtiva ao Face. Mas você sabe, o agito está no “boteco”: a página inicial. Mesmo lá, encontro informação, serviço, boas imagens. Mas o clima de frivolidade domina. Como se costuma dizer, todo mundo é feliz e bem-sucedido no Facebook. Alguém pode dizer que o Google+ é a mesma coisa. Não é. O G+ é uma rede social integrada ao vasto complexo de serviços informativos, produtivos e acadêmicos do Google. O Facebook é uma ilha isolada oferecendo um serviço pobre. Os bilhões de dólares que eles ganham não se refletem no indigente serviço que apresentam. Já escrevi aqui e repito, pois nada mudou: é inconcebível que uma rede social passe tantos anos com a mesma pobreza gráfica. O fracasso no lançamento de suas ações no mercado não foi à toa. O Face é uma bolha que se expandiu demais. É claro que reconheço a importância do Facebook na história das redes sociais.

E é óbvio que frequento o “bar” todos os dias, tão curioso e carente de aceitação como qualquer outro frequentador. Mas a fila tem de andar! Sinto que a brincadeira de Mark Zuckerberg foi longe demais. Não quero o fim do Facebook. Quero que ele melhore. Gostaria de ter mais interação com as pessoas em outras redes. Quero ver o bolo das redes sociais mais bem dividido, com uma concorrência maior. O Face provavelmente ainda será indispensável por um bom tempo. Mas tenho conversado com muitas pessoas que se cansaram dessa quase obrigação psicológica diária de frequentar esse clube. Afinal, 84% é demais.

Dagomir Marquezi, 60 anos, dividiu sua vida entre o jornalismo e a ficção. Escreveu novelas, musicais e roteiros de cinema. Há 15 anos acompanha a tecnologia em sua coluna na INFO.